sexta-feira, 22 de março de 2013

Uma base teórica acerca da posição aqui tomada

Segundo M. Bakhtin toda palavra é ideológica. A palavra é o signo mais puro, isto é, em si mesma ela não carrega sentido ideológico, mas quando empregada em determinado contexto social, ela assume uma postura que está vinculada com as ideologias de uma sociedade. Tomando o conceito de Exotopia (que se faz presente no livro Bakhtin: conceitos-chave), eu insiro o corpus aqui analisado em seu cultura, ou seja, faço uma análise do cordel ao mesmo tempo que o insiro na cultura Nordestina. Ao clicar em alguns links que estão no corpo do hipercordel, faço algumas associações ao contexto do Nordeste (a visão de mulher que algumas pessoas tem nessa Região).

terça-feira, 12 de março de 2013

A imagem estereotipada da mulher em letras de músicas.

É possível encontrarmos a imagem estereotipada da mulher em várias letras de músicas, que colocam a mulher apenas como dona de casa. Mas quando essa imagem se reverte muitas críticas surgem e daí surge a necessidade de lutar contra isso!!! A letra da música A mulher que virou homem é carregada de estereótipos desse tipo. Vejam aqui.

domingo, 10 de março de 2013

O cordel e "seus" discursos



A mulher que deu tabaco na presença do marido
Autor: Gonçalo Ferreira da Silva

Quem perde o tempo no mundo
Só com conversa fiada
Bota falta em todo mundo,
Não nota virtude em nada
Se acaso engolisse a língua
Morreria envenenada.
Às vezes contam estória
Que nem sequer faz sentido
Que no dia de São Nunca
Talvez tenha acontecido
Da mulher que deu tabaco
Na presença do marido.
Dona Juca era dotada
De perfumado sovaco,
E quem ferisse uma perna
Numa queda ou num buraco
Ela curava a ferida
Com o seu próprio tabaco.
Quando ela via uma
Desventurada pessoa
Horrivelmente gripada
Soltando espirros à toa
Dava o tabaco e aquela
Enferma ficava boa.
Seu marido Mororó
Dizia: - Você me insulta,
Quanto mais dá seu tabaco
Mais a multidão se avulta
Assim, ou para com isso
Ou eu vou cobrar consulta.
Mas Dona Juca dizia:
- Essa bobagem não faça,
Quando eu tenho algumas pratas
Você bebe de cachaça
Cobre pelo seu trabalho
Meu tabaco eu dou de graça.
Pau da vida, Mororó
Respondeu: - Aqui ninguém
Vai mais pedir seu tabaco
Pois pra mim não pega bem
Quem pedir o seu tabaco
Você diga que não tem.
Porém como aquilo tinha
Que acontecer um dia
Quanto mais passava o tempo
Mais a multidão crescia
Procurando a Dona Juca
Em magistral romaria.
Pra mostrar que Dona Juca
Tinha mesmo grande prova
Basta dizer que uma velha
Já com os dois pés na cova
Foi visitar Dona Juca
Pra pedir pra ficar nova.
Dizia a velha aos presentes
- Não pensem que sou maluca
sou velha porém não tenho
qualquer problema na cuca
tenho fé no milagroso
tabaco da Dona Juca.
E disse mais a velhinha:
-Todo mundo tem fé nela
não há esse que não queira
ao menos sonhar com ela
pedir pra sentir o cheiro
que tem o tabaco dela.
Conselhos de medicina
Da nossa grande nação
Pediram que o governo
Procedesse intervenção
De Juca o curandeirismo
A pronta proibição.
A população local
Lançou logo um manifesto
E contra a proibição
Uma nota de protesto
Achando que o conselheiro
Devia ser mais modesto.
A imprensa curiosa
Rádio, TVs e Jornais,
Volantes de reportagens,
As emissoras locais
Mandaram à casa de Juca
Os seus profissionais.
Muitas pessoas movidas
Por humanos sentimentos
Na casa de Dona Juca
Armaram acampamentos
Assistindo a cobertura
De tais acontecimentos.
E os poetas distantes
Da vigilância do rapa
Faziam suas propagandas
Enquanto bebiam garapa
Exibindo seus folhetos
Com Dona Juca na capa.
Numa bengala escorado
Um doente entrou na sala
Quando cheirou o tabaco
Readquiriu a fala
Pra provar que ficou bom
Rebolou fora a bengala.
Contente da vida, ele
Por ter salvo a sua vida
Graças ao santo tabaco
Da Dona Juca querida
E esta era por todos
Sinceramente aplaudida.
Nunca a fama de um vivente
Depressa se espalhou tanto
Nos quatro cantos do mundo
O seu nome em cada canto
Desfrutava do respeito
Do mais milagroso santo.
Quando nem a medicina
Dava esperança sequer
Ao enfermo, ele inda tinha
Uma fezinha qualquer
No tabaco milagroso
Daquela santa mulher.
E a própria natureza
Como que para testar
O poder que possuia
O tabaco de curar
Fez aparecer doenças
Muito estranhas no lugar.
Por exemplo na cabeça
Dum sujeito ainda moço
Apareceu certo dia
Uma espécie de caroço
Um par de colossais chifres
Um mais fino, outro mais grosso.
O rapaz, secretamente,
Foi ao lar de Dona Juca
E disse: - Um dia eu senti
Na testa uma dor maluca
Depois nasceu esses troços
No alto da minha cuca.
Dona Juca disse: - O meu
Tabaco pode curar
Porém a sua mulher
Terá que colaborar
Pois do jeito que ela faz
Nem adianta tentar.
Este negócio de chifre
Não é um costume novo
Eu esfrego meu tabaco,
Ela pede fumo ao povo,
Eu sei que existe a chuva
Porém eu mesmo não chovo.
O rapaz chegando em casa
Disse pra Conceição:
-O milagroso tabaco
me tira desta aflição
no entanto é necessário
sua colaboração.
Conceição disse assustada:
-Colaborar? Como assim?
Não dê mais o seu tabaco
Não seja assim tão ruim...
É você dando o tabaco
E nascendo chifre em mim.
Aí Conceição cortou
Os males pelas raízes
E o pobre rapaz dos chifres
Também superou as crises
Viveram oitenta anos
Extremamente felizes.
Dona Juca recebeu
Parabéns do Doutor Zeca
Que fizera experiência
Com sua própria cueca
E não conseguiu nascer
Cabelo em sua careca.
Passando a careca
No tabaco prodigioso
Ficou cabeludo e Zeca
Se tornou em fervoroso
Romeiro de Santa Juca
Do tabaco milagroso.
FIM 




O cordel A mulher que deu  tabaco na presença do marido é de autoria de Gonçalo Ferreira da Silva. Traz como temática a ambiguidade que pode ser criada pela palavra tabaco, tanto pode referir-se à genitália feminina (numa linguagem mai popular) ou a um produto agrícola processado a partir de folhas do gênero nicotina.

A posição por mim tomada vai de encontro à imagem estereotipada de mulher que é apresentada no cordel. Pois, considero que o gênero feminino deve ter o mesmo respeito que o masculino, perante à sociedade vigente. A imagem de mulher é destoada, denegrida e desvinculada de total respeito por muitas pessoas, em todo o Brasil. Podemos tomar nota desse fato quando ouvimos as letras de músicas presentes em nosso meio, os estilos de roupas que são criadas para "dar uma modelagem melhor" ao corpo feminino, etc.


Reflitamos sobre esses fatos, e não deixem de fazer uma ligação do cordel com os hiperlinks, que estão situados no corpo do cordel.


Conhecendo o gênero cordel...

Para conhecer um pouco mais sobre o que é literatura de cordel, suas origens e outras curiosidades, é só clicar aqui. Você será redirecionado a outro blog, de minha autoria, e lá você entrará em contato com algumas curiosidades sobre Literatura de Cordel.

 Vamos conhecer?!


Introdução

Esse blog tem como objetivo criar um olhar crítico à alguns aspectos da cultura regional. O Nordeste brasileiro foi "criado" e ainda é "sustentado" por crenças e valores que passaram de geração à geração. Valores significativos para a formação do cidadão. Valores estes, que podem passar desapercebido pelas massas, mas que estão recheados de ideologias... Como por exemplo: a imagem submissa da mulher, o preconceito pelas diferenças etc. Dai, resulta a crença no que é certo e/ou errado para determinada sociedade.